Quem sou eu

Eu sou eu, meus eus e os seus.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O MESTRE

Berenice, moça muito comportada resolveu ir para Porto Alegre. Histórias de moças comportadas realizando uma viagem você conhece há muito tempo. Mas, Berenice chegou na capital toda orgulhosa pois tinha uma meta: ir ao encontro para fazer o mundo acontecer. Foi rapidamente, após colocar sua valise e notebook no ombro para a Usina do Gasômetro.
Curiosa e ansiosa para realizar sua inscrição, talvez seria a primeira, pois era domingo e o evento começaria na segunda- feira, com a presença de seu mestre. Subiu euforicamente até o 4º andar e solicitou informações cabíveis aos voluntários do encontro.
Estava derretendo seu cérebro e sua massa corporal solicitava algo gelado para refrescar as ideias e colocar os pés no chão.
Enquanto se deliciava com um picolé que não era de seu Macalé aquele da rua Sepé, caminhava observando grupos vestidos com suas características, outros com bandeiras que ela sabia o significado realizando manifestações de louvores ao mesmo mestre considerado seu. Olhou para outro lado, perguntou em uma banca de artesanato  o preço da máscara do tuareg  feito de papel machê que lhe chamou atenção, uma economia sustentável. Ficou espantada com o preço e deixou escapar... A setentona hippie querendo aparentar  trinta e cinco anos realizou um sermão indignada com Berenice: não entende de arte popular,  pô... estamos lutando para um mundo melhor socialmente, politicamente e economicamente correto.
Resolveu Berenice, naquele calor de quarenta graus dar uma volta no barco Cisne Branco pelo Guaíba. Pensativa, corroída, indignada, cansada observou ao longe a cidade de Porto Alegre...
Terça- feira pela manhã, cá estava Berenice toda faceira com seu rebolado passeando pela avenida Brasil, após dar uma espiada no seu local de trabalho. Comprou o jonal onde acabou lendo notícias sobre seu mestre, a avaliação de tantos anos de encontro, as transformações da esquerda e direita na última década. Ficou com uma fúria tremenda e não queria compreender, não fazia parte de sua bandeira a viagem de seu mestre para um lugar onde o rico faz a festa mas,  acabou não acontecendo.Colocou o jornal dentro da sua bolsa, respirou,  dobrou a esquina e entrou na catedral.
Obs: fotografia de Jeferson Bottega

domingo, 17 de janeiro de 2010

MENINA, MULHER DESCALÇA

Menina andando na rua e na praça
Furtando picolé do seu Macalé
Fugindo descalça na rua Sepé
Menina descalça
Brincando de faz de conta
Na vitrine da loja
Tecendo sonhos e fantasias
vendendo rapaduras e pastéis
Brincando no parque
Balançando livremente
Tentando alcançar
Os sons da luz
Anjos,
Arcanjos
Menina descalça
Lava e passa roupa
Sábia nos dias de sol e chuva
Subindo a ruela cantando versos
Que só ela sabe o significado
Criando segredos
Fingindo verdades
Chorando sozinha
No canto da esquina da avenida Brasil
descobrindo o amor
Quando o vestido curto ficou
Salto alto, bolsa a tiracolo
Escola não vai
Normas, estiquetas não segue
Família só tem quando aperta o coração
E a saudade chegar
Menina, mulher descalça
Boneca nua
Traços de mulher
Senhora de si
Na esquina da rua
Dobrando a avenida da vida!

!!!

DEUS...

... SOMOS HUMANOS!!!
HAITI... SÓ GOSTARIA  COMPREENDER... DESCULPE MINHA IGNORÂNCIA,  SENHOR!!!

sábado, 9 de janeiro de 2010

PÂNICO, INCOMPREENSÃO HUMANA

Tomamos conhecimento na vila Comandaí, poucos quilômetros da nossa cidade, vive Luzia com seu esposo, comerciante naquela localidade.
Luzia, senhora de quarenta e cinco anos, está atacada de infecção crônica produzida por um bacilo específico, chamado de Bacilo de Hansen. Motivo que, querida sobrinha, está causando um verdadeiro pânico naquela povoação seguido de transferência de domicílio já, de várias famílias, havendo outras que desejam fazê- lo, a fim de por salvo as suas famílias do terrível mal que as ameaça. Imagina!!! O próprio grupo escolar que congrega aproximadamente 150 alunos fechou as portas, negando- se as professoras, dizem com razão, voltarem ao trabalho, antes que seja retirada do lugar a leprosa.
A doente em apreço, Luzia, já esteve recolhida ao leprosário de Porto Alegre, e  não sabemos como consegui evadir- se. Hoje, está vivendo entre seus familiares e no próprio seio da coletividade, sem escrúpulo algum, dedicando- se mesmo, segundo se propala naquele lugarejo, à fabricação de manteiga, queijos, pães, bolachas  e cucas que são vendidos na feira de Santo Ângelo.
O chefe da higiene local, telefonou ao diretor do leprosário de Porto Alegre, a fim de requisitar a ambulância daquela casa de saúde, para fazer o transporte da Luzia para aquela cidade. mas a resposta foi negativa, pois o diretor daquele estabelecimento hospitalar comunicou que o carro ambulância estava completamente estragado.
Houve enorme movimentação dos políticos locais e estaduais para que a Luzia fosse recolhida imediatamente, pois a localidade estava vivendo a cada instante o pânico, um dos mais terríveis males que pesam sobre a humanidade.
Estamos nos preparando para ir ao baile do Baltazar, no clube Concórdia, aí em Santa Rosa. Qual será a bandinha que irá animar a festa?
Olha, vamos combinar tantas coisas juntas, vamos organizar um pequenique na cascata do Comandaí, quando a primavera chegar com a participação das normalistas.
Últimamente estamos despertando para a curiosidade política e econômica. O governador do estado. o general Ernesto Dorneles propõe executar o plano de eletrificação. espero que tenha persistência.
Querida sobrinha, redigi de maneira completamente adoidada, fugindo às regras gramaticais e metodológicas de uma carta, no dia treze de março de hum mil novecentos e cinqüenta e dois.
Muita luz!
Com carinho,
Tua Tia Sibila.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Torres da Catedral


 

Torres majestosas da catedral
o que lhes orgulham?
Os sinos a replicarem,
  a cruz do cristífero,
a simbologia oculta.
os ipês amarelos, roxos e tantas outras árvores.
Dividem entre o céu
o seu espaço com prédios da modernidade.
Os santos protetores,
São Nicolau,
São Miguel,
são Luis Gonzaga,
São Francisco Borja,
São Lourenço,
São João Batista,
Santo Ângelo,
 voltados para o Sul
protegendo a cidade e campos verdes
buscando visualizar e socorrer
ás aguas do arroio Itaquarinchim
e do rio Ijuí- Grande.
Sabiá, pardal e joão- de -barro.
Moleque, pé- de - moleque,  
  rezando com a vó Cida na missa
para o José, Pedro, Júnior e tantas Marias,
desempregados e angustiados pela sobrevivência
resgatando a dignidade nesta terra
com o espírito guerreiro dos bravos índios
que outrora aqui moravam.