Quem sou eu

Eu sou eu, meus eus e os seus.

sábado, 6 de março de 2010

ESCRAVA DA TERRA MISSIONEIRA


         - Arrasta este chão maleva! Não deixe o joio misturar com as plantações! Capine, pise, corta, arada esta terra com arado!
        No mais o calavera de cola erguida olhava para a cunhataí. Outrora, o sol queimara seu corpo branco fazendo florescer partes de carne viva, pura de primeira, que se pareceia com um suculento churrasco.
       - Cunhataí, se esquecer da pitoca enxada de capinar a terra, serás vagabunda no grande lugarejo! - Excalma o velho calavera.
       Vestindo vestidos onde o remendo não cabia mais, deixara aparecer um pouco do seu corpo desenvolvido trabalhando na imensa terra vermelha enfeitada de pedras e algumas flores sempre vivas. No mais, ensinada a tomar chimarrão rodeada pelo calavera, um piá e o chiru, parente distante do herói das missões.
        Nos capins debaixo, num vu via- se listras verdes, amarelas, outras vermelhas com a cabeça chata, esta era perigosa, parecida com a m'boi guaçu enraivecida.
No   povoado de São Miguel fora mandada. Deveria ser capaz de trazer alguma  moeda para sustentar o velho e o piá. Nada mais dava na terra. A estiagem acabara com o riacho de trás da coxilha, com pastos e plantações, não tinham mais comida e água suficiente. Deus teria castigado por terem cortado com machado o capão. O trabalho árduo da rapariga acabara ali. Teria de sobreviver de maneira diferente.
          E nas circunstância do tempo se tornara tirana. A chama estaria acesa, queimando igual a fogueira utilizada para assustar os animais dos matos por ali existentes. Teria conhecido um peão de cola reguida e maravilhado com a beleza da rapariga se aproveitou. Pela primeira vez a cunhataí de carne e osso deixara seu passado atrás da porta daquela casa coberta de sapê e rodeada pelo canto do quero- quero. Não era mais cunhataí.
         O piá e o chiru, avistaram ao longe a volta da choupana e o calavera a abraçou, indagando:
         - As moedas  estão com com cê? Venha...
         O escuro da noite e a chuva seriam testemunhas da transformação ocorrida na pequena cunhataí.
        Tudo voltara a ser como tempos passados.
        - Arrasta este chaão, tirana! O joio não se mistura com as plantações! Valerá muitas noedas... muitas moedas... Tirana!

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