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Eu sou eu, meus eus e os seus.

terça-feira, 6 de abril de 2010

VÔMITO




Sempre presente no primeiro banco da primeira fila pois, somente assim, garantia um lugar mais abençoado e perto do padre, do bispo e de Deus. Silvia começou a sentir uma vertigem e a cúpula da catedral começou a ficar mais alta e distante talvez, indo ao encontro dos anjos e arcanjos. Quando voltou a si estava sendo apoiada por uma senhora idosa. E no tempo necessário para sair porta a fora da igreja, onde vomitou tudo o que sentia naquele momento... a imagem do padre, que fizera a encomenda do corpo do seu neto, a neta que também perdera poucos dias atrás, e o sorriso da bisneta sobrevivente da tragédia que balançou em seus frágeis braços já sentindo a força da gravidade. Vomitou a fé, pois não compreendia o motivo de seus netos partirem antes dela. Ela que já sofria do mal de Parkinson, agora a realidade era outra, também viúva do marido... vomitou a esperança. Que esperança ela poderia implorar diante da imagem do Cristo Morto? Se ela tinha seus amados mortos. Não conseguia compreender e também não queria compreender o sentido da morte. Logo ela, que sempre foi católica apostólica romana. Terminou o ritual da missa, saiu sabe lá como de dentro da igreja e tomou seu destino, sua casa. Somente olhou pra trás para verificar a beleza da Catedral Anjopolitana e da praça matriz. Seguiu desconfiada definitivamente de sua fé e de todos que por ela passavam.

4 comentários:

FabioZen disse...

A perda faz parte da natureza humana, e sofremos com isso desde sempre. Os tamanhos é que variam, desde pequenas a algumas que achamos insuperáveis. Ainda bem que podemos contar (se quisermos) com dois aliados: o tempo e a fé,essa testada diariamente,mas sempre recorrente.

Abrç!

Marjorie disse...

Eu também caminho assim...

Beijos

Lorís disse...

Procurando uma qualidade para esta tua crônica, encontro "intensa" como uma boa definição. Cada palavra colocada carrega uma imagem e um sentimento real.Parabéns.
Sobre o tema abordado: Diferente do que a maioria pensa, a fé não é um dom com o qual nascemos, mas uma construção de milenios, feita pelo nosso espírito imortal. Trabalho consciente, busca da razão, compreensão adquirida.

Bjs.

claudiodognani disse...

As vezes acho que preciso ter mais fé, confiar mais, rezar ainda mais... nunca acreditei na morte e sim numa passagem, já perdi muitas pessoas querias, próximas, dói, sim, e muito, cheguei a questionar Deus o porquê de certos acontecimentos, respostas não tive, mas com o tempo fui aprendendo a lidar com essa passagem, prefiro pensar q as pessoas queridas q perdi estão num lindo jardim esperando um dia eu chegar lá. mas para isso continuo a viver da melhor forma possível, para eles me receberem de braços abertos e seremos todos felizes.