Quem sou eu

Eu sou eu, meus eus e os seus.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

OUTONO, TERRA E PÓ


Há algo que gostaria de compreender melhor. Passo várias noites de sono interrompido. Explicação sábia, é o climatério, penso eu. Reluto em tomar medicação, mas não taças de vinho acompanhadas por um bom queijo. Não gosto de ficar sem dormir, pois parece um "presságio" algo irá acontecer, realmente minha mente sente e expressa através da insônia. Hoje,sexta- feira,  levantei, uma noite mal dormida novamente e mentalmente realizei uma visualização do Éderson, fui até Gramado onde o Rodrigo e a Luciana estão participando do Congresso de Neurociência e Psiquiatria e vou checar mentalmente como está minha Mãe em Santa Rosa. Tudo bem ultimamente com nossos vizinhos e amigos, a Alzira, Dona Pedra, a Dona Deja e a Olinda, todas com boa qualidade de vida nas suas respectivas idades. E nesse momento toca o telefone, é a Mãe comunicando do falecimento da Dona Olga, amiga da nossa família por mais de quarenta anos e o fato é que ela não foi visualizada na concentração realizada há segundos atrás. Ao som da música Bohemian Raphsody com Mont Serat Caballé vem como um filme um dos bons momentos que passamos juntas ao lado do fogão a lenha na casa de minha família materna. Como de costume, sempre quando vou visitar minha Mãe, as vizinhas, amigas vem ao nossso encontro para tomar chimarrão e comer bolos, cucas e calças viradas. Lembro uma situação inusitada: sentadas todas ao redor do fogão a lenha, eu, a mãe , a minha irmã Ivete que mora em Brasília e a Dona Olga, onde a cuia de chimarrão passava de mão em mão como num ritual de bruxas. Realmente, o momento era mágico, pois quando eu imaginaria que uma senhora de 78 anos iria falar da sua sexualidade naquele momento. Sempre brincava com a Olga, pois ela participava dos bailes da melhor idade e formava par com a minha mãe, mesmo sempre mancando, o seu joelho doía muito eu comentava que  era um amor mais profundo que conhecia.
_ Sabe kika, esta noite sonhei com o Valdemar  meu falecido marido, e comecei a brigar com ele pois estava cheirando bebida e queria sexo comigo.
- E a senhora como reagiu diante a solicitação do seu Valdemar?
- Senti muita vontade, você acha que nesta idade a gente não sente vontade de fazer sexo?
   Fiquei perplexa pela espontaneidade dela e continuei a escuta- la.
- Eu também queria sexo, só que fiquei quietinha quando ele deitou ao meu lado, pois já sabia o que ele queria, mas eu queria um sexo diferente sem cheiro de cachaça. Não adiantou fingir... acordei e chorei pois na verdade ele não estava ao meu lado e eu fiquei no prejuízo pois o desejo sexual estava ali presente. Só quando levantei observei que tinha virado embaixo da cama a cachaça com mestruz que uso para passar no joelho quando sinto dor. 
  A gargalhada foi geral história contada.Consciente do acontencido começamos a debater o desejo sexual da mulher na melhor idade. Como pude observar a libido continua saliente, bem como as fantasias eróticas e realmente deu uma lição de como saber respeitar a real idade.
    Entre o tudo e o nada, entre o passado e o presente, entre a vida e a morte, momentos da dignidade do ser mulher vivido postado no nosso cérebro que nunca será deletado no mundo misterioso em que vivemos. Retorne ao pó, sua passagem por aqui companheira do calor e do frio, da alegria e do choro, do sol e da chuva,prótons, elétrons, macroorganismos, microorganismos tudo o que compõem e decompõem o nosso corpo humano, fétido humano, somos puro humus no fim. Sou humana não contenho a lágrima ao fundo musical de "Romance ", tocado pelo Kitaro. Vá, Dona Olga ao encontro do seu amado!Vá com muita Luz!A usina humana é repositório de forças elétricas de alto teor construtivo ou destrutivo e cada célula, minúsculo motor, trabalhou ao impulso mental o milagre do cérebro, com o coeficiente de bilhões de células e que a partir desse momento, na tarde de outubro retornará para a terra em forma de cinza e pó.

2 comentários:

FabioZen disse...

Agradabilíssima esta crônica,leve e que conduz com facilidade o leitor.

Eunisia disse...

Obrigada pela gentileza. Teu blog com o texto " Carne Viva", está "blogando".
Parabéns,
Eunísia